#11 Seresta em Diamantina: Música para Todos

 

No mesmo encontro com a cantora/compositora Xandreli (veja a postagem #10 do blog), tive a oportunidade de conhecer o seresteiro Vicente Lopes Ramos para aprender sobre a Seresta.  No encontro anterior, o Wander tinha me falado sobre as diferenças entre a Seresta e a Serenata  –  ambas são essencialmente a mesma coisa, mas indicam raízes musicais ligeiramente diferentes. 

 

 

 

Enquanto “Serenata” é um termo amplamente usado para fazer referência a canções (ou uma cantata), a ‘Seresta’ retrata uma identidade única do Brasil, pois herdou elementos musicais das culturas europeia e africana. Considerando a importância de Diamantina como uma cidade de mineração diamantífera durante o período colonial, não é de se admirar que tal gênero musical tenha se desenvolvido. 

 

Então, como foi que a Seresta tornou-se um gênero musical popular em Diamantina? 

 

Segundo o Wander, os primórdios remontam ao final do século XVIII, quando se importavam pianos da Europa para os lares diamantinenses. Como Diamantina era uma cidade rica e de muitos recursos e mantinha estreita ligação com o Rio de Janeiro, ter um piano em casa não era uma coisa rara. Em casa, cantavam-se modinhas. Contudo, ter um piano não era um luxo acessível a todo mundo. Portanto, a música foi gradativamente sendo levada para as ruas para que pudesse ser compartilhada de forma mais ampla. 

 

Assim como o sarau tornou-se um evento compartilhado entre as pessoas comuns, o mesmo aconteceu com a música que representava a demografia de Diamantina. O Fandango e o Lundu, que são dois elementos musicais da música de dança africana, foram incorporados à Modinha. Dessa fusão, nasceu a Seresta. 

 

Embora o termo ‘Seresta’ tenha se perdido um pouco antes da década de 1970, foi novamente retomado por um dos expoentes dessa tradição, o ex-presidente Juscelino Kubitschek. O próprio Kubitschek participava das serestas e uma vez disse: “Uma serenata em Diamantina é mais bela do que uma noite de trovadores em Nápoles”.  

 

Kubitschek participando de uma seresta em Diamantina
Kubitschek participando de uma seresta em Diamantina

 

 

Com base nesse contexto histórico, eu quis saber: como a seresta repercute na população diamantinense hoje? 

 

Vicente, que é cantor e compositor de serestas, já compôs mais de 200 músicas. Ele me disse que os temas dessas músicas vão desde o romântico até as belezas da cidade. A estrutura dessas canções normalmente se baseia em uma linha melódica simples com acompanhamento instrumental. Os instrumentos mais comuns incluem (mas não se limitam a): cavaquinho, violão, pandeiro, flauta, clarineta e acordeão. 

 

Depois de se apresentar, o Vicente executou para nós, de forma especial, a sua música “Acorda, Chica”. Chica da Silva foi uma figura importante em Diamantina durante o século XVIII, que saiu da escravidão e defendeu a democracia social. 

  

 

Depois de ouvir o Vicente, lembrei-me da popular canção de seresta “Oh Minas Gerais / Peixe Vivo” que eu gravei em Londres no mês de março (essa filmagem foi feita para fazer parte da Vesperata em abril, mas o evento foi adiado devido às restrições por causa da pandemia).  “Oh Minas Gerais / Peixe Vivo” é uma música já cantada na Vesperata. 

 

 

Com melodias simples e bonitas que contam a história da terra natal, essas músicas podem ser facilmente cantadas e compartilhadas por todos (como se pode ver no vídeo abaixo). Ao ver as várias filmagens da Vesperata com a multidão imersa nessa música, fica claro que a Seresta ainda hoje é um veículo importante para aproximar as pessoas. Fico ansiosamente aguardando para participar da seresta na Vesperata (data a ser anunciada!)